quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Gimme a sound to play!

São capazes de imaginar um mundo sem música? Assim uma espécie de taliban-world mas sem hipótese de reversão? É uma ideia assustadora, muito mais do que qualquer medo de pacotilha em fita de série B para assustar meninos de coro.
Não a ausência de som, mas a impossibilidade visceral de o arrumar em música!
Brrrrrr……… Eu dava em doido, se já não fosse…


Dador Universal

Quem dera fosse pintor, nos idos de oitocentos
e pudesse afogar as mágoas em copos pequenos de absinto…
Em vez disso saiu-me a alma aberta, transparente,
em que todos vêem o que não sai de mim!

Quem dera fosse poeta, álcool rouco na voz
de uma vida desperdiçada em vielas raras de sol.
E talvez um acesso de tosse, assim telúrico,
para compor veramente a imagem do sofredor.

Quem dera fosse pedinte, cantando a solo a angústia
em qualquer esquina da vida, andrajosa e infiel.
E só trazer no peito o tísico peso do desespero,
sempre acompanhado à viola pela solidão anónima.

Quem dera não ser nada, só rara ausência,
enovelar-me confortável no vazio quentinho,
útero em que me dobrasse e não nascesse,
apenas não fosse e não pensasse.

E nesse vazio infinito, só amar tudo
e rir, desalmadamente, de mim e da vida.





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