segunda-feira, janeiro 23, 2006

O regresso da Esfinge



Fato Cinzento

Estaremos todos condenados
a só cantar canções de amor
e nada mais?
E ainda amar a natureza,
dar as mãos
não cuspir para o chão nem para o ar
e atravessar, sempre,
nas passadeiras?
Que é do frémito, da emoção?
Do prazer de dizer não
e estar teimosamente
errado?
Por que não arriscar
gastar a vida num segundo?;
porque, num segundo,
cabe o destino do mundo.
E o futuro, que todos
dizem querer apanhar.
Poder ser ser sem devir,
álibi falhado dum crime
que cometi
Senso comum enganado
engalanado de penas
e conféti.
Não sirvo para cinzeiro de mim
nem para soprar as cinzas dos outros.
Não me serve um fato cinzento.
Não sou um fato cinzento!
Deixem-me ter cor, por favor,
e adivinhar o amor
que não senti.

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